segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O lúdico no processo de aprendizagem

Quando iniciei minha experiência profissional como professora regente nas séries iniciais, dedicava-me ao meu trabalho, mas tinha uma grande preocupação com os conteúdos e por isso não havia tempo para o jogo, a brincadeira. Os alunos sentavam-se em duplas ou fila e faziam trabalhos individuais.
No terceiro semestre do Pead ( Pedagogia a distância) tive a interdisciplina “Ludicidade e educação” em que através das leituras de autores como Tânia Ramos Fortuna, Neusa Maria Carlan Sá, Euclides Redin, comecei a despertar para novas formas de desafiar os alunos, através de jogos e brincadeiras.
Ao tentar definir jogo, Huizinga ( ed. Orig. 1938) descreveu-o como atividade voluntária, exercida dentro de certos limites de tempo e espaço , segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotada de um fim em si mesma, acompanhada de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana ( caráter fictício). Callois ( ed. orig. 1958) sublinhou sua dimensão imprevisível, cujo desfecho não se pode determinar dependente que é da capacidade de inventar do jogador. Texto Sala de aula é lugar de brincar? Pág 1 Tânia Ramos Fortuna .
Percebi que com os jogos e brincadeiras podiam aprender além dos conteúdos de forma mais prazerosa e isso não seria perca de tempo.
Minha prática pedagógica foi aos poucos mudando: Não via mais o jogo, brincadeira, como perca de tempo, meus alunos tinham acesso a material concreto para manusear quando necessário e até propus momentos de jogo e brincadeiras , no entanto, estes momentos eram pontuais, tinha dia e hora certos para os jogos, era o “ dia do jogo” proposto “uma vez por semana”, tinha também o “dia do brinquedo”, também uma vez por semana. Geralmente sentavam em grupos, mas na maioria dos momentos era apenas a disposição das classes, pois muitas das atividades propostas eram realizadas de forma individual.
As aulas estavam se tornando mais dinâmicas e prazerosas, mas me questionava com a freqüência em que o lúdico era proposto a meus alunos.
“Se examinarmos detalhadamente as práticas pedagógicas predominantes na atualidade constataremos a inexistência absoluta de brinquedos e momentos para brincar na escola. Os pátios, áridos, resumem o último baluarte da atividade lúdica na escola, ainda que desprovidos de brinquedos atraentes, ou mesmo sem brinquedo, sobre o pretexto de “proteger os alunos” ou alegando que “estragam”. Nos raros momentos em que são propostos, são separados rigidamente das atividades escolares, como o “canto” ou o “dia do brinquedo,_ e, assim mesmo, apenas nas escolas infantis , pois nas classes de ensino fundamental estas alternativas são abdominadas, já que os alunos estão ali para aprender e não para brincar.” Texto Sala de aula é lugar de brincar? Pág 3 Tânia Ramos Fortuna .
Mesmo propondo “O dia do brinquedos e dos jogos separados” , em momentos pontuais, já havia tido um progresso, pois já estava compreendendo que aprender e brincar podiam estar interligados.
No primeiro semestre de 2010 chegou o momento tão esperado do estágio do Pead, estagiei com a turma que atualmente sou professora regente, segundo ano.
A cada ano procuro inovar, trazer a meus alunos novos desafios. Meu desafio para este ano letivo era de trabalhar o lúdico em diversos momentos e propor atividades em que os alunos pudessem trabalhar em grupos, se ajudando mutuamente, havendo colaboração, desta forma, os alunos estarem em grupos não seria apenas a disposição das classes.

Confesso que não foi fácil, em diversos momentos brigavam por não conseguirem conciliar opiniões diferentes, mas não desisti e aos poucos foram aprendendo a conviver e respeitar opiniões diferenciadas.
Percebi que as atividades realizadas com o lúdico contribuíram para despertar maior interesse dos alunos resultando em aprendizagem significativa, nos momentos em que o lúdico foi trabalhado aprendi mais relacionado teoria com a prática e possibilitando interdisciplinaridade.
Através do trabalho com o lúdico pode não apenas na teoria, mas na prática vivenciada, rimar aprender com prazer.

Alfabetização e letramento

Quando comecei a trabalhar no município de Esteio, tive minha primeira experiência com alfabetização, já havia lido o livro Psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberoski e me encantado com as hipóteses sobre a leitura e escrita, sobre os níveis que as crianças passam até serem alfabetizadas. Foi quando tive minha primeira experiência com alfabetização que fui me deparar na prática com a realidade descrita no livro, hipóteses como poucas letras não servem para ler , muitas letras corresponderem a objetos grandes e poucas a objetos pequenos, escreverem uma letra para cada sílaba, após conflito para o Silábico-alfabético, enfim várias etapas até estarem alfabetizados.
No segundo semestre ouvi falar sobre letramento, pensava que se estava alfabetizado já era automaticamente letrado e percebi nas leituras que uma pessoa pode nem estar alfabetizado e ser letrado, então surgiram trocas de idéias com colegas de trabalho e faculdade a respeito do que é ser letrado e para a minha surpresa pessoas com formação em pedagogia não sabiam a resposta a minha inquietação.
De acordo com a síntese dos dois primeiros capítulos (O que é Letramento? E O que é Letramento e Alfabetização) do livro: SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Autêntica: Belo Horizonte, 2001:

“Um sujeito letrado é aquele que se envolve em práticas sociais de leitura e escrita.
Uma criança, que mesmo ainda não dominando a técnica da leitura e da escrita, folheia livros, jornais, revistas... finge lê-los, brinca de escrever, escuta histórias lidas por outro, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, pode ser considerada letrada, pois já entrou no mundo do letramento. Embora, seja considerada analfabeta, pois ainda não aprendeu a ler e escrever.
Uma pessoa letrada é aquela que, além de aprender a ler e a escrever, faz uso dessa aprendizagem, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita. Acredita-se que, essa pessoa, ao tornar-se letrada, muda seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura, sua forma de relacionar-se com as outras pessoas, com o contexto etc. Esse processo de letramento pode trazer ao sujeito conseqüências lingüísticas, conforme já mostraram algumas pesquisas: uma pessoa letrada fala de forma diferente de uma iletrada ou analfabeta; depois de concluído o processo de letramento, há adultos que passam a falar de maneira diferente, demonstrando que o convívio com a língua escrita pode ter como conseqüências mudanças na língua oral, nas estruturas lingüísticas e no vocabulário.
... aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e decodificar a língua escrita; (...) um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e escrita. (p. 39 e 40)
Pode-se assim afirmar que, letramento é a condição de quem interage com diferentes portadores, gêneros, funções e tipos de leitura e escrita na vida.
A preocupação, nos dias de hoje, não deve centrar-se apenas em ensinar a ler e a escrever, mas também, e sobretudo, levar as pessoas a utilizarem a leitura e a escrita, envolvendo-se em práticas sociais dessas."
A partir da leitura destes textos qualifiquei mais minha prática docente, percebi que não basta ensinar a ler e escrever, mas trabalhar diferentes portadores de textos e criar estratégias diversificadas para que a leitura e escrita seja algo prazeroso, significativo e não apenas algo a mais que deve-se aprender na escola.

Projeto Político-Pedagógico

No ano de 2006 iniciei este curso de Pedagogia e tive uma interdisciplina sobre a organização da escola e a elaboração do documento PPP.
Não sabia que PPP significava Projeto Político Pedagógico, tampouco como era construído. Isto porque 2006 era o primeiro ano que estava trabalhando em escola municipal, minha experiência anterior era em escola particular e a palavra PPP era desconhecida pelos professores e comunidade, acredito que quem elaborava era a chefia que coordenava toda a rede destas escolas.
Nos estudos descobri que PPP é o rumo, a direção que a escola perseguirá durante um período , por esse motivo, não deve ser detalhado e rígido, precisa ser flexível e prever reformulações. Deve ser construído no coletivo da escola, sua construção deve envolver todos da comunidade escolar: segmento de pais, professores, equipe diretiva. Não deve ser um documento burocrático, que provavelmente não será cumprido e sim algo objetivo, de acordo com a realidade, por esta razão cada escola deve construir o seu, não pode ser igual em uma rede de escolas como havia vivenciado anteriormente.
De acordo com o texto Projeto Político-Pedagógico, documento de identidade da escola contemporânea, de Ana Mariza Ribeiro Filipouski e Neiva Otero Schaffer:
“Detalhando a sugestão, nesta primeira parte, será interessante que constem:
1 . os dados de identificação da escola, isto é, os dados formais (a localização e a razão da localização; o significado do nome; documentos legais, como ano de criação e outros; níveis de ensino que oferece; número de professores e alunos, por nível; equipe técnica e funcional);
2. um breve histórico da vida da escola, com destaque para elementos relevantes a serem registrados;
3. a caracterização do prédio e dos recursos hoje disponíveis.
À segunda parte corresponde o diagnóstico, para o qual é imprescindível a avaliação coletiva realizada pela comunidade escolar. Aí se apresentam, de forma sucinta, as características atuais da escola no que se refere:
a) às finalidades da educação que realiza;
b) aos alunos que compõem o corpo discente e os princípios de sua formação;
c) à gestão da escola (como ela é administrada, quem decide, quem executa);
d) às práticas pedagógicas comuns na escola (que conhecimentos têm sido priorizados, que estratégias têm sido adotadas no ensino, que recursos são utilizados, que projetos realiza e qual a justificativa pedagógica para sua realização);
e) aos resultados alcançados (qual o nível de satisfação de professores e alunos com o trabalho, qual a situação da aprendizagem/evasão e reprovação);
f) à forma atual de avaliação e progressão dos alunos;
g) aos principais problemas e conflitos que enfrenta.”

Foi através dos estudos no Pead que aprendi sobre este documento, a teoria juntou-se a prática quando participei da elaboração do primeiro PPP da escola que atualmente trabalho. Este momento foi muito importante porque os professores se dividiram por grupos de estudos e me envolvi diretamente na parte da avaliação, havia um descontentamento porque a avaliação era descritiva, era muito cansativa para os professores elaborarem e a comunidade não compreendia, desta forma propomos outro forma de expressar os resultados da avaliação e buscamos embasamento teórico para a escolha .
De acordo com o texto Projeto Político-Pedagógico, documento de identidade da escola contemporânea, de Ana Mariza Ribeiro Filipouski e Neiva Otero Schaffer:
“Ainda que a construção deste documento seja incumbência de cada um e de todos os professores, talvez seja oportuno que se formem grupos de estudos por assunto, os quais assumirão a responsabilidade de organizar sessões de discussão e sistematização do documento, submetendo ao coletivo um texto previamente aprofundado por alguns professores.”
Atualmente sei sobre a importância deste documento para a organização da escola e meu papel para sua construção, este ano juntamente com a comunidade escolar participei novamente da construção do PPP , vou aprendendo mais e ampliando minha participação.

Tecnologia no contexto escolar

Antes de iniciar este curso de Pedagogia tinha pouco contato com computador, apenas digitada com dificuldades alguns textos e avaliações dos alunos, mas não tinha contato com Internet, não sabia nem mandar um e-mail. Não buscava aprender porque tinha medo de mexer no computador e não saber, fazer algo errado e passar por ignorante.
Na escola que trabalhava, as crianças tinham aula de informática somente com outra professora. Tinha a oportunidade de agendar horário uma vez por semana para ir ao laboratório e trabalhar com meus alunos, mas nunca ia, achava que já estava ótimo a oportunidade de irem uma vez por semana, afinal de contas, faltaria tempo para dar todos os conteúdos propostos do ano letivo.
As únicas aulas de informática dos alunos, não tinham seguimento com o que estava sendo trabalhado na sala de aula.
De acordo com o texto: A introdução da informática no ambiente escolar, do Professor José Júnio Lopes:
“No começo, quando as escolas começaram a introduzir a informática no ensino, percebeu-se pela pouca experiência com a tecnologia, um processo um pouco caótico. Muitas escolas introduziram em seu currículo o ensino da Informática como pretexto da modernidade. Mas o que fazer nestas aulas? E quem poderia dar estas aulas? A princípio contrataram técnicos que tinham como missão ensinar informática. No entanto eram aulas descontextualizadas, com quase vínculo nenhum com as disciplinas, cujos objetivos principais eram o contato com a nova tecnologia e oferecer a formação tecnológica necessária para o futuro profissional na sociedade”. Pág 2
No primeiro semestre do curso de Pedagogia da UFRGS tive uma interdisciplina sobre o uso das tecnologias na escola.
Descobri através dos estudos que os recursos computacionais devem ser usados na escola tendo sempre um objetivo, desde que orientado de maneira adequada traz benefícios para a educação, pode possibilitar a aprendizagem dos conteúdos de forma diferenciada resultando em construção de conhecimento dinâmico e significativo.
A partir dos estudos do Pead tive maior contato com a tecnologia, fui perdendo o medo e gostando das novas descobertas, comecei a ir com mais frequencia ao laboratório e criar atividades que pudessem aproveitar este espaço aprendendo de forma mais significativa os conteúdos propostos.
Atualmente sei que tenho muito o que aprender, mas posso dizer que sou muito diferente daquela pessoa que iniciou o curso da UFRGS no ano de 2006, quando não sei algo não tenho medo de buscar, gosto de usar a internet como recurso para buscar novas estratégias de ensino, crio atividades para que possam ir ao laboratório e usar o computador procurando sempre relação com os conteúdos trabalhados em sala de aula.